tag:blogger.com,1999:blog-7601440324663762602024-03-06T20:02:42.475+00:00POEMAS & POETASPOEMAS,OBRAS E BIOGRAFIAS DE GRANDES POETAS PORTUGUESES E OUTROSPoemas & Poetashttp://www.blogger.com/profile/08584894607083971312noreply@blogger.comBlogger891125tag:blogger.com,1999:blog-760144032466376260.post-51185683080910412312009-04-27T10:09:00.001+01:002009-04-27T10:09:29.507+01:00Manuel Alegre<p> </p> <p align="center"><font size="3"><font face="Verdana"><em>ABRIL DE ABRIL <br /> <br /></em></font></font></p> <p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em>Era um Abril de amigo Abril de trigo <br />Abril de trevo e trégua e vinho e húmus <br />Abril de novos ritmos novos rumos. </em></font></p> <p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em>Era um Abril comigo Abril contigo <br />ainda só ardor e sem ardil <br />Abril sem adjectivo Abril de Abril. </em></font></p> <p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em>Era um Abril na praça Abril de massas <br />era um Abril na rua Abril a rodos <br />Abril de sol que nasce para todos. </em></font></p> <p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em>Abril de vinho e sonho em nossas taças <br />era um Abril de clava Abril em acto <br />em mil novecentos e setenta e quatro. </em></font></p> <p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em>Era um Abril viril Abril tão bravo <br />Abril de boca a abrir-se Abril palavra <br />esse Abril em que Abril se libertava. </em></font></p> <p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em>Era um Abril de clava Abril de cravo <br />Abril de mão na mão e sem fantasmas <br />esse Abril em que Abril floriu nas armas.</em></font> </p> <p align="right"><sub>30 Anos de Poesia - Publicações Dom Quixote</sub></p> Poemas & Poetashttp://www.blogger.com/profile/08584894607083971312noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-760144032466376260.post-14147406079878296002009-04-27T10:07:00.001+01:002009-04-27T10:07:03.260+01:00Sophia de Mello Breyner Andresen<p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em> </em></font></p> <p align="center"><font size="3"><font face="Verdana"><em><b>CANTATA DA PAZ</b> <br /></em></font></font><b> <br /></b><b> <br /></b></p> <p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em>Vemos, ouvimos e lemos <br />Não podemos ignorar <br />Vemos, ouvimos e lemos <br />Não podemos ignorar </em></font></p> <p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em>Vemos, ouvimos e lemos <br />Relatórios da fome <br />O caminho da injustiça <br />A linguagem do terror </em></font></p> <p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em>A bomba de Hiroshima <br />Vergonha de nós todos <br />Reduziu a cinzas <br />A carne das crianças </em></font></p> <p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em>D'África e Vietname <br />Sobe a lamentação <br />Dos povos destruídos <br />Dos povos destroçados </em></font></p> <p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em>Nada pode apagar <br />O concerto dos gritos <br />O nosso tempo é <br />Pecado organizado</em></font> </p> <p> </p> <p align="right"><sub>(CD Canções Com Aroma de Abril, Strauss, 1994)</sub></p> Poemas & Poetashttp://www.blogger.com/profile/08584894607083971312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-760144032466376260.post-55409475138775259142009-04-25T01:24:00.000+01:002009-04-25T01:24:00.488+01:00Alexandre Vargas<p> </p> <p><font face="Verdana" size="3"><em><strong>Primeira oração a Cyborg</strong></em></font></p> <pre><font face="Verdana" size="3"><em>Senhor já vos chamei e novamente<br />as vossas luzes nas colunas e o povo<br />que não fala pelas ruas deambula,<br />com a boca entreaberta, os braços fixos<br />no trajecto-paraíso sem igual<br />descreve a longa via engenhosa que percorre o seu caudal.<br /><br />Mas vós, Cyborg, tão alto estais exposto<br />aos ventos que a vosso encontro se encaminham<br />que a cidade agonizante toda une os seus esforços<br />e canta sibilante a melodia<br />dos vossos templos de quiosques enfeitados,<br />entre as cascatas o som puro dos seus passos.<br /><br />Sim, tu Cyborg, és tudo o que desejo<br />e estou na treva observando o teu fulgor,<br />serás apenas a miragem ou o grito<br />que de noite atormenta o meu furor,<br />desta loucura agora todo eu me quero entranhar<br />até em parte alguma jamais de novo poder estar.</em></font></pre><br /><br /><div align="right"><br /> <pre><br /><font face="Vrinda"><em>CYBORG - Livros Horizonte 1978</em></font></pre><br /></div> Poemas & Poetashttp://www.blogger.com/profile/08584894607083971312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-760144032466376260.post-28240381881121115202009-04-25T01:22:00.000+01:002009-04-25T01:22:00.388+01:00Alexandre Vargas<p align="justify"><font face="Verdana" size="3"><em> </em></font></p> <p align="justify"><font face="Verdana" size="3"><em><strong>Nas mãos sinto a luz</strong></em></font></p> <div align="justify"> <pre><font face="Verdana" size="3"><em>Nas mãos sinto a luz, a êxul luz<br />que vem das paliçadas da mansão,<br />a luz azul em clarificada zona então<br />aproxima de mim o seu facho de horizonte.<br /><br />E logo eu a lembrar o querido monte<br />em que pousada estava sobracente a ramaria,<br />e logo eu então a pedir à maresia<br />que nos brilhos unos do futuro aproximasse<br /><br />esse rumor de aves onde os raios enfeitasse<br />e eu oco no caminho que me guia<br />contivesse as minhas mágoas do passado,<br /><br />e surgisse ali a minha alma em fogo-fátuo<br />estivesse eu em toda a dimensão do brusco<br />a nascer das folhas com a boca em luz arado.</em></font></pre><br /></div><br /><br /><div align="right"><br /> <pre><font size="3"><em><br /><br /><font face="Verdana" size="2">CYBORG - Livros Horizonte 1978</font></em></font></pre><br /></div> Poemas & Poetashttp://www.blogger.com/profile/08584894607083971312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-760144032466376260.post-14520266661654593002009-04-24T01:20:00.000+01:002009-04-24T01:20:00.548+01:00Alexandre Vargas<p align="justify"><strong> <font face="Verdana" size="3"><em>Ma Blonde</em></font></strong></p> <p align="justify"><font face="Verdana" size="3"><em>Ouve, vagueio num espaço de luz cercado dum silêncio. é um silêncio e não o teu... vejo claramente olhando, as [mesas </em></font></p> <p align="justify"><font face="Verdana" size="3"><em>o meu perfil que se volta docemente e não és tu, em que braços te suspendes e flutuas os teus lábios rigorosos de planície quando voas?.. </em></font></p> <p><font face="Verdana" size="3"><em>Olha, fixa e furtivamente olha superiormente, ó Cyborg que enorme já te ergues no teu luto, a boca entreaberta como um ovo que é olhado na doce e fresca idade que em breve nos espera entoa já o canto dos fantasmas que dão fruto.</em></font></p> <p> <br /> <br /><em>CYBORG - Livros Horizonte 1978</em></p> Poemas & Poetashttp://www.blogger.com/profile/08584894607083971312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-760144032466376260.post-14977710661412372372009-04-24T01:15:00.000+01:002009-04-24T01:15:00.078+01:00Alexandre Vargas<p><font face="Verdana" size="3"><em> </em></font></p> <p><font face="Verdana" size="3"><em><strong>THE PALACE</strong></em></font></p> <p><font face="Verdana" size="3"><em></em></font></p> <p><font face="Verdana" size="3"><em>Ainda estás de pé, ó meu velho palácio,</em></font></p> <p><font face="Verdana" size="3"><em>restaurado até no sítio onde um mausoléu</em></font></p> <p><font face="Verdana" size="3"><em>imaginei em que o meu corpo deitado</em></font></p> <p><font face="Verdana" size="3"><em>jazesse de dia e também, debaixo do céu</em></font></p> <p><font face="Verdana" size="3"><em></em></font></p> <p><font face="Verdana" size="3"><em>Nocturno, o fantasma da minha alma ao léu</em></font></p> <p><font face="Verdana" size="3"><em>volteasse por entre os túmulos etruscos</em></font></p> <p><font face="Verdana" size="3"><em>e os bustos romanos desse grande hotel</em></font></p> <p><font face="Verdana" size="3"><em>morada de ingleses que, ao lusco-fusco,</em></font></p> <p><font face="Verdana" size="3"><em></em></font></p> <p><font face="Verdana" size="3"><em>Nela terão dado belos passeios românticos</em></font></p> <p><font face="Verdana" size="3"><em>a que sempre regresso ao jardim da infância</em></font></p> <p><font face="Verdana" size="3"><em>antiga capela de Virgem da Catalunha.</em></font></p> <p><font face="Verdana" size="3"><em></em></font></p> <p><font face="Verdana" size="3"><em>Aqui terá Beckford gerado o seu Vathek</em></font></p> <p><font face="Verdana" size="3"><em>e cavaleiro cristão contra xeque</em></font></p> <p><font face="Verdana" size="3"><em>mouro combatido: valsa lua esconde a sombra.</em></font></p> Poemas & Poetashttp://www.blogger.com/profile/08584894607083971312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-760144032466376260.post-18987460876992166762009-04-23T10:12:00.001+01:002009-04-23T10:12:52.301+01:00Alexandre Vargas<p align="justify"><font face="Verdana"><em> </em></font></p> <p align="justify"><font face="Verdana" size="3"><em><strong>Exílio</strong></em></font></p> <div align="justify"> <pre><font face="Verdana"><em>É noite e Cyborg dorme o seu sono de morte,<br />os dois acordes do som, na noite repetem:«Cyb-org,<br />Cyb-org) Cyb-org) Cyb-org...» e os autómatos crescem<br />na sombra funérea e ígnea dos luzes horizontes,<br />alguns ainda acendem os seus fachos claridade<br />para o descair ligeiro das placas violeta.<br /><br />Irrompeu a cidade com um tremer de fumo de miragem<br />e toda se inflamou na sua tristeza sem igual,<br />com a cor do cimento, do ,branco e das vigas sobre o mar<br />aqui se implantou, aqui para sempre a luz paragem.<br />E nunca nenhum deus a jamais tentou vencer<br />e ninguém sem respeito para ela pode olhar.<br /><br />É noite agora, o palácio adormecido onde de lado eu estaria<br />no estar sem espera, fecham as janelas e as grades<br />dos muros ainda porventura sem lembrança,<br />mas anoitece ainda a minha infância e sem correr,<br />eu, fantasma do que fui, procuro estar<br />na morte tão etérea de uma ave de metal.</em></font> </pre><br /></div><br /><br /><div align="right"><br /> <pre><br /><br /><font face="Verdana" size="1"><em>CYBORG - Livros Horizonte 1978</em></font></pre><br /></div> Poemas & Poetashttp://www.blogger.com/profile/08584894607083971312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-760144032466376260.post-28686954162688249422009-04-23T10:10:00.001+01:002009-04-23T10:10:41.482+01:00Alexandre Vargas<p align="justify"> </p> <p align="justify"><font face="Verdana" size="3"><em><strong>Espectros que vêm das estrelas</strong></em></font> <p align="left"><pre><font face="Verdana" size="3"><em>Na noite vidro, um brilho de fósforo: azul.<br />Ouvi dizer que as estrelas são as moradas dos mortos,<br />irradiam assim alguma possibilidade?..<br />De qualquer modo saem dos nichos os algozes<br />que nos torturarão ao longo de uma vida inteira...<br />«Como te chamas ?», pergunta-se para haver resposta.<br />Descem com os grandes farricocos de Lua esgazeada,<br />sem O. V. N. I. de seda que lá nos possam flutuar<br />e vogam só as capas de morcego sobre os olhos.<br />Sigo-os eu até às suas pernas clandestinas,<br />dançam já e cortam-me a cabeça-<br />para quê voar dêem-me aquele pouco de loucura<br />de ser mais um zombie por aqui,<br />pois a minha vida é apenas «for the moment»<br />e todo o meu destino-1800<br />é navegar de cartola e bengala na mão de ferro<br />com castão lunar na gravidade destes sonhos.<br />Penso, penso em ti, como é o teu nome de cabelos?<br />Como procuras a tua morada sob as pontes<br />ou espreitas nas chaminés da grande fábrica<br />que se ergue no teu castelo de colina?<br />Mas danças, mas não ris, eu pelo meu lado<br />já vendi a minha alma a Belzebu,<br />e as crateras dos teus olhos são tão belas...<br />muito mais do que um olhar se espelha nelas,<br />os espectros que assim descem das estrelas<br />lá os vejo a bailar, a afeição<br />que um dia a mim também me deu a mão...</em></font></pre></p><br /><div align="left"><pre> </pre></div><br /><div align="right"><pre><font face="Verdana"><em>CYBORG - Livros Horizonte 1978</em></font></pre></div> Poemas & Poetashttp://www.blogger.com/profile/08584894607083971312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-760144032466376260.post-57625383323977395922009-04-22T13:46:00.001+01:002009-04-22T13:46:58.350+01:00Hernâni Correia<p align="justify"><font face="Verdana" size="3"><em><strong>LONGE DAQUI</strong> </em></font></p> <p align="justify"><font face="Verdana" size="3"><em>Em sonho lá vou de fugida, <br />Tão longe daqui, tão longe. <br />É triste viver tendo a vida, <br />Tão longe daqui, tão longe. <br />Mais triste será quem não sofre, <br />Do amor a prisão sem grades. <br />No meu coração há um cofre, <br />Com jóias que são saudades. <br />Tenho o meu amor para além do rio, <br />E eu cá deste lado cheiinha de frio. <br />Tenho o meu amor para além do mar, <br />E tantos abraços e beijos pra dar. <br />Ó bem que me dá mil cuidados, <br />Tão longe daqui, tão longe. <br />A lua me leva recados, <br />Tão longe daqui, tão longe. <br />Quem me dera este céu adiante, <br />Correndo veloz no vento. <br />Irás a chegar num instante, <br />Onde está o meu pensamento. <br />Tenho o meu amor para além do rio, <br />E eu cá deste lado cheiinha de frio. <br />Tenho o meu amor para além do mar, <br />E tantos abraços e beijos pra dar, <br />Tenho o meu amor para além do mar</em></font></p> Poemas & Poetashttp://www.blogger.com/profile/08584894607083971312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-760144032466376260.post-24899006920925661432009-04-22T13:30:00.001+01:002009-04-22T13:30:29.237+01:00Hernâni Correia<p align="justify"><font face="Verdana" size="3"><em> </em></font></p> <p align="justify"><font size="3"><font face="Verdana"><em><b>Hernâni Sebastião Paixão Correia</b>, mais conhecido por <b>Hernâni Correia</b> (Lagos, 25 de Janeiro de 1925 - ( ? ) 2 de Fevereiro de 1998) foi um compositor e <strong>poeta</strong> português.</em></font></font></p> <p align="justify"><a name="Biografia"><font face="Verdana" size="3"><em></em></font></a></p> <h4 align="justify"><font face="Verdana"><em>Biografia</em></font></h4> <p align="justify"><font face="Verdana" size="3"><em>Nasceu na freguesia de Santa Maria, em Lagos, filho de Hernâni Eduardo Correia e de Maria Cândida Paixão. Enquanto estudava na Escola Comercial Rodrigues Sampaio, em Lisboa, começou a laborar na Emissora Nacional. Tornar-se-ia, mais tarde, chefe de secção da Secretaria e Arquivo Geral e vogal do Conselho Fiscal da Radiodifusão Portuguesa. Frequentou, igualmente, o Instituto Superior de Económicas e Financeiras de Lisboa.</em></font></p> <p align="justify"><font face="Verdana" size="3"><em>Foi 1.º secretário da direcção e vogal efectivo da direcção da Casa do Algarve, tendo representado o concelho de Vila do Bispo nesta organização. Foi também vogal no Centro de Arte e Cultura Teixeira Gomes.</em></font></p> <p align="justify"><font face="Verdana" size="3"><em>Escreveu diversos poemas e letras para canções populares, entre os quais se destacam "Fado de Quem Ama", "Meu Amor, Minha Cidade", Pressentimento", "Sol de Pouca Dura", "Amar Lisboa", "Ao Ver Lisboa" e "Lisboa das Varinas".</em></font></p> <p align="justify"><a name="Bibliografia"><font face="Verdana" size="3"><em></em></font></a></p> <h4 align="justify"><font face="Verdana"><em> Bibliografia</em></font></h4> <p align="justify"><font face="Verdana" size="3"><em>Ferro, S. (2002). Vultos na Toponímia de Lagos. Lagos: Câmara Municipal de Lagos</em></font></p> <p align="right"><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Hern%C3%A2ni_Correia" target="_blank">Obtido na Wikiopédia</a></p> Poemas & Poetashttp://www.blogger.com/profile/08584894607083971312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-760144032466376260.post-13416934558822463022009-04-21T09:38:00.001+01:002009-04-21T09:38:07.838+01:00António Cabral<p align="justify"><font face="Verdana"><em><strong>A UMA OLIVEIRA</strong> </em></font></p> <p align="justify"><font face="Verdana"><em>Velha oliveira,  ó irmã do tempo e do silêncio, <br />algo de ti se me tornou hoje perceptível; <br />algo que eu não conhecia e me fez parar <br />na ténue sombra que teces no caminho; <br />algo que é uma doce corola de contacto.</em></font></p> <p align="justify"> <br /><font face="Verdana"><em>Já os passos da luz se afastam na colina <br />e um rumor de pérolas quebradas <br />desce, lentamente desce por toda a serrania. <br />Já as aves tuas amigas procuram na folhagem <br />a doçura acumulada nos favos da noite. <br />E  também já são horas <br />de nós os homens, nós os que passamos, <br />suspendermos as cítaras do pensamento.</em></font></p> <p align="justify"> <br /><font face="Verdana"><em>Entretanto, ó canção do crepúsculo, velha oliveira, <br />eu paro sob os longos cílios da tua ramagem. <br />Paro e, ao sentir nas mãos o teu enrugado tronco, <br />e, nos olhos, a serenidade das tuas folhas, <br />começo a entender uma bela mensagem: <br />a paz, ah a paz!, a rosa da paz.</em></font></p> <p align="justify"> <br /><font face="Verdana"><em>É como se uma gota de azeite descesse, <br />brandamente descesse pelas coisas.</em></font></p> <p align="right"> <br /> <br />In <em>Poemas Durienses</em></p> Poemas & Poetashttp://www.blogger.com/profile/08584894607083971312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-760144032466376260.post-4267643824735823192009-04-21T09:34:00.001+01:002009-04-21T09:34:54.954+01:00António Cabral<p align="center"><font face="Verdana" size="4"><strong><em> SOLIDÃO</em></strong></font></p> <p align="justify"><em><font face="Verdana">A maior parte das vezes não abre a janela: <br />senta-se no velho poial, como um resto de musgo, <br />e deixa que os olhos passem no vidro, <br />visitando-se mais uma vez. As coisas,</font></em></p> <p align="justify"><em><font face="Verdana"> <br />gradualmente, configuram-na, desde aquela hora, <br />e quem a procura, sentindo-a no fundo das águas, <br />não lhe pergunta pelo marido. <br />O relicário de pau-santo fere-lhe</font></em></p> <p align="justify"><em><font face="Verdana">a solidão de semente abolida, <br />já o arco de si própria. <br />Pudesse ao menos saber para onde irão varrer</font></em></p> <p align="justify"><em><font face="Verdana"> <br />o que ficar da sua sombra, quando vender a quinta. <br />Para junto dos limoeiros, sonha. <br />enquanto a alma escorrega, docemente.</font></em></p> <p align="right"> <br />in <em>ANTOLOGIA DOS POEMAS DURIENSES</em></p> Poemas & Poetashttp://www.blogger.com/profile/08584894607083971312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-760144032466376260.post-14235596869363506072009-04-20T13:42:00.001+01:002009-04-20T13:42:39.457+01:00António Cabral<p><font face="Verdana" size="3"><em> </em></font></p> <p><font face="Verdana" size="3"><em><strong>A Solidão </strong></em></font></p> <p><font face="Verdana" size="3"><em><strong>(O Isolamento da Condição Humana) II</strong></em></font></p> <p><font face="Verdana" size="3"><em>Vem, meu amor. Estamos <br />numa terra de paz. <br />Aqui somos irmãos <br />daquela cotovia.</em></font></p> <p><font face="Verdana" size="3"><em>Esquecidos de tudo, <br />esquecidos da morte, <br />acendemos no tempo <br />o lume original.</em></font></p> <p><font face="Verdana" size="3"><em>Meu doce amor, a chama <br />branca, muito branca, <br />que se ateia, enleia <br />o que resta do mundo.</em></font></p> <p><font face="Verdana" size="3"><em>Somos livres. A vida <br />recupera as origens. <br />Que bom é estarmos sós <br />nas muralhas da luz! <br />Que bom é confundir <br />as mãos com as urtigas <br />e dizer: Oh Senhor, <br />obrigado por tudo!</em></font>           </p> <p align="right"> <br />in <em>Quando o Silêncio Reverdece</em></p> Poemas & Poetashttp://www.blogger.com/profile/08584894607083971312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-760144032466376260.post-61457232435488312002009-04-20T13:31:00.001+01:002009-04-20T13:39:05.676+01:00António Cabral<p align="justify"><font face="Verdana" size="3"><em>E AGORA não sei se estás a descer as escadas e vens abrir a porta. Vi-te à janela quando começou a chover nesta árvore e não eras apenas um ramo. Bem sei que às vezes confundimos o que se vê com o ver, semelhantes que somos a bolinhas de sabão. É assim bem provável que já tenhas vindo à porta e passasses por mim sem eu te ver. Uma vez que a chuva se foi embora, acho então melhor prosseguir a caminho do olival onde mais facilmente te reencontrarei no voo das aves migratórias. Pelo sim, pelo não, fico também aqui, onde começa o rasto do teu olhar.</em></font></p> <p align="right"> <br />in <em>O RIO QUE PERDEU AS MARGENS</em></p> Poemas & Poetashttp://www.blogger.com/profile/08584894607083971312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-760144032466376260.post-35424516773588721022009-04-12T02:25:00.000+01:002009-04-12T02:25:00.279+01:00António Feliciano de Castilho<p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0id5v97e6Zl7VBdP73pfxt1vz21VLpWMUJit3sMptmrExuTX4zme2v6Or6Kb3G6isgOppcHYn76Pj9e8PjhT5R6VH_efla8Go50y0023-_k3sAthNh-abGdKGaY7DkotVLWjS2Skd2g0G/s1600-h/Antonio%20Feliciano%20de%20Castilho%20-%20Obras%5B4%5D.jpg"><img title="Antonio Feliciano de Castilho - Obras" style="border-right: 0px; border-top: 0px; display: block; float: none; margin-left: auto; border-left: 0px; margin-right: auto; border-bottom: 0px" height="246" alt="Antonio Feliciano de Castilho - Obras" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNq_1uGXeuTwnOYNi6iECnqXw-NVH-sfaZvRYci39cMYzDvq1VvVkEX4Auug2TBKfPGiQZFq-BnQLe0uLHyu4mEpf60GCRClxCfl5Cm4JBOj4Sr1ZLUoMCOYa2NeV_q3vwPZY2r4VJBK2q/?imgmax=800" width="167" border="0" /></a> </p> <p align="center"><font face="Verdana" size="4"><em><strong>OBRAS NA:</strong></em></font></p> <p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em>- </em></font><a href="http://pt.wikisource.org/wiki/Autor:Ant%C3%B3nio_Feliciano_de_Castilho" target="_blank"><font face="Verdana" size="3"><em>WIKISOURCE</em></font></a></p> <p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em>- </em></font><a href="http://purl.pt/index/geral/aut/PT/27666.html" target="_blank"><font face="Verdana" size="3"><em>BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL</em></font></a></p> Poemas & Poetashttp://www.blogger.com/profile/08584894607083971312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-760144032466376260.post-88350333382562729092009-04-12T01:59:00.000+01:002009-04-12T01:59:00.799+01:00António Gonçalves de Bandarra<p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em>Dedicatória a Dom João de Portugal, bispo da Guarda</em></font></p> <p> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>SENTE BANDARRA <br />AS MALDADES DO MUNDO <br />E PARTICULARMENTE <br />AS DE PORTUGAL</em></font></p> <p> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>I <br />Como nas Alcaçarias <br />Andam os couros às voltas, <br />Assim vejo grandes revoltas <br />Agora nas Cleresias.</em></font></p> <p> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>II <br />Como usam de Simonias <br />E adoram os dinheiros, <br />As Igrejas, pardieiros, <br />Os corporais por mais vias.</em></font></p> <p> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>III <br />O sumagre com a cal <br />Faz os couros ser mociços, <br />Ah! Quantos há maus noviços <br />Nessa Ordem Episcopal! <br />(...) </em></font></p> <p> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>SONHO SEGUNDO</em></font></p> <p> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Oh! Quem tivera poder <br />Para dizer, <br />Os sonhos que o homem sonha! <br />Mas hei medo, que me ponha <br />Grão vergonha <br />De mos não quererem crer. <br />Vi um grão Leão correr <br />Sem se deter <br />Levar sua viagem, <br />Tomar passagem, <br />Sem nada lho defender.</em></font></p> <p> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Tirará toda a escória <br />Será paz em todo o Mundo, <br />De quatro Reis o segundo <br />Haverá todo a vitória.</em></font></p> <p> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Será dele tal memória <br />Por ser guardador da lei, <br />Polas armas deste Rei <br />Lhe darão triunfo, e glória.</em></font></p> <p> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Trinta e dois anos e meio <br />Haverá sinais na terra; <br />A Escritura não era; <br />Que aqui faz o conto cheio.</em></font></p> <p> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Um dos três que vão arreio <br />Demonstrar ser grão perigo; <br />Haverá açoite, e castigo <br />Em gente que não meneio.</em></font></p> <p> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Já o tempo desejado <br />É chegado <br />Segundo o firmal assenta <br />Já se passam os quarenta <br />Que se ementa <br />Por Doutor já passado. <br />O Rei novo é acordado <br />Já dá brado: <br />Já arressoa o seu pregão <br />Já Levi lhe dá a mão <br />Contra Siquém desmandado. <br />E segundo tenho ouvido, <br />E bem sabido, <br />Agora se cumprirá: <br />A desonra de Dina <br />Se vingará <br />Como está prometido.</em></font></p> <p> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>O Rei novo és escolhido <br />E elegido, <br />Já alevanta a bandeira <br />Contra a Grifa parideira <br />Que tais pastos tem comido; <br />Porque haveis de notas, <br />E assentar <br />Aprazendo ao Rei dos Céus <br />Trará por ambas as Leis, <br />E nestes seis <br />Vereis coisas de espantar.</em></font></p> <p> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>O néscio quer afirmar, <br />E declarar <br />Desde seis até setenta <br />Que se ementa, <br />Do Rei que irá livrar. <br />Louvemos este Barão <br />Do coração, <br />Porque é Rei de Direito; <br />Deus o fez todo perfeito <br />Dotado de perfeição.</em></font></p> <p> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Este Rei tem um Irmão, <br />Bom capitão. <br />Não se sabe a irmandade? <br />Todo é nobre, em bondade; <br />E na verdade <br />Que sairá com o pendão.</em></font></p> <p> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Muitos estão desejando, <br />E altercando, <br />Se o meu dito será certo, <br />Se de longe, se de perto? <br />E sobre o tal praticando <br />Aquele grão Patriarca <br />No-lo mostra, e está falando, <br />E declara o grão Monarca: <br />Ser das terras, e comarca, <br />Semente del Rei Fernando.</em></font></p> <p> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Este Rei de grão primor, <br />Com furor, <br />Passará o mar salgado <br />Em um cavalo enfreado, <br />E não selado, <br />Com gente de grão valor.</em></font></p> <p> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Este diz, socorrerá, <br />E tirará, <br />Aos que estão em tristura, <br />Desde, conta a Escritura, <br />Que o campo despejará, <br />Os Fidalgos estimados,</em></font></p> <p> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>E desprezados, <br />Que até agora são corrigidos, <br />Com o tal serão erguidos, <br />E mui queridos, <br />E com os Reis estimados. <br />Se lerdes as Profecias <br />De Jeremias, <br />Irão dos cabos da terra <br />Tomar os Vales, e Serra, <br />Pondo guerra, <br />E tirar as heresias, <br />Derrubar as Monarquias, <br />E fantasias <br />Serão bem apontoadas, <br />Serão todas derrubadas, <br />Desconsoladas <br />Fora das possentadorias.</em></font></p> <p> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Ainda mais profetizando, <br />E declarando: <br />Seus pequenos das manadas, <br />Derrubar-lhe-ão as moradas <br />Bem entradas, <br />E assim o vai mostrando. <br />Já o Leão vai bradando, <br />E desejando <br />Correr o porco selvagem, <br />E tomá-lo-á na passagem <br />Assim o vai declarando.</em></font></p> <p> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Muitos podem responder, <br />E dizer: <br />Com que prova o sapateiro <br />Fazer isto verdadeiro, <br />Ou como isto pode ser? <br />Logo quero responder <br />Sem me deter. <br />Se lerdes as Profecias <br />De Daniel e Jeremias <br />Por Esdras o podeis ver.</em></font></p> Poemas & Poetashttp://www.blogger.com/profile/08584894607083971312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-760144032466376260.post-91012642517515847472009-04-12T01:53:00.000+01:002009-04-12T01:53:00.487+01:00António Gonçalves de Bandarra<p> </p> <p align="justify"><font face="Verdana" size="3"><em><a href="http://www.flickr.com/photos/vitor107/65269095/in/set-1419477/" target="_blank"><img title="António Gonçalves de Bandarra" style="border-top-width: 0px; display: block; border-left-width: 0px; float: none; border-bottom-width: 0px; margin-left: auto; margin-right: auto; border-right-width: 0px" height="480" alt="António Gonçalves de Bandarra" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcfN7oFKgz-93x2edaALikrC-Xjlok8eBBf5_ycSii_gqVcyugi3ULtRRjNBpeAIFcpi3T6LiFIj9UbbLYoEdKxT1FQgvEIaAwIvvjcy_NXugIVdO6BzS-nNB83Om_2-G_vq7TWDzf-1Ve/?imgmax=800" width="360" border="0" /></a> </em></font></p> <p align="justify"><font face="Verdana" size="3"><em>António Gonçalves de Bandarra (1500-1556) nasceu e faleceu em Trancoso. Tendo exercido a profissão de sapateiro, dedicou-se à divulgação em verso de profecias de cariz messiânico. Por causa disso, foi acusado pela Inquisição de judaísmo e as suas trovas foram incluídas no Catálogo de Livros Proibidos. D. João de Castro foi o editor da primeira edição conjunta das trovas, com o título Paráfrase e Concordância de Algumas Profecias de Bandarra, publicadas provavelmente em Paris no ano de 1603. A obra foi bem recebida pelos nacionalistas portugueses que aspiravam libertar-se do jugo de Espanha, interpretando as trovas como uma profecia ao regresso do Rei D. Sebastião. Em 1802, as trovas tiveram uma segunda edição, na cidade francesa de Nantes, patrocinada pelo Marquês de Nisa. São reimpressas em 1809 (Barcelona e Londres), aquando das invasões francesas, com prefácio de Frei José Leonardo da Silva. Em 1815, com o título Trovas Inéditas do Bandarra sai uma nova edição. Entre 1822-1823, com o título Verdade e Complemento das Profecias, uma outra. As Trovas do Bandarra influenciaram o pensamento sebastianisma e messiánico de Padre António Vieira e de Fernando Pessoa.</em></font></p> <p align="right"><a href="http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/bandarra.htm" target="_blank">Fonte : Projecto Vercial</a></p> Poemas & Poetashttp://www.blogger.com/profile/08584894607083971312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-760144032466376260.post-12488302289951143762009-04-11T02:09:00.000+01:002009-04-11T02:09:00.205+01:00António Feliciano de Castilho<p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em></em></font></p> <p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em><strong>A TOMADA DE COIMBRA</strong></em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>(Xácara)</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>I</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Caminhavam frades bentos <br />do mosteiro de Lorvão, <br />quando acharam Dom Fernando <br />no meio de Carrião: <br />era Dom Fernando o Rei, <br />e seu reino era Leão.</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>– D. Fernando, D. Fernando, <br />novas de consolação! <br />cavaleiros não nos oiçam; <br />manda sair quantos são. <br />Deus te nos manda dizer <br />que tens Coimbra na mão.</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>«Descuidados estão Moiros <br />do poderio cristão; <br />deles o havemos sabido <br />por sua conversação, <br />quando nos vêm de Coimbra <br />a montear em Lorvão.</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>«Fingimos uma romagem <br />por livrar de suspeição, <br />e viemos dar-te aviso, <br />grão Rei, senhor de Leão. <br />Manda logo fazer prestes <br />todo o ginete e peão.</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Como três meses passaram, <br />era por Janeiro então, <br />el-Rei é sobre Coimbra, <br />e os de dentro em confusão; <br />mas vale o muro à cidade, <br />que é mui boa defensão.</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Em que traz muitos vassalos <br />de caldeira e de pendão, <br />em que traz o Cid Rui Dias, <br />mais forte que quantos são, <br />não acaba de a tomar, <br />sete meses já lá vão.</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>..........................</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Cristãos, ganhastes Coimbra, <br />mais que jóia oriental; <br />mais tu, Coimbra, ganhaste, <br />que tens fonte baptismal, <br />e a tua mesquita grande <br />verás logo em catedral.</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Dar meia cidade aos monges <br />queria o Rei liberal, <br />mas os monges só quiseram <br />uma casa monacal, <br />contentes com Lorvão santo, <br />seu paraíso terreal.</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Foi-se el-Rei a Compostela <br />com sua gente leal. <br />De atabales e trombetas <br />soa estrondo festival; <br />abrem-se as portas do templo <br />bem armado e triunfal.</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Todos co'o joelho em terra <br />como cumpre em caso tal, <br />diziam de agradecidos <br />ao valedor imortal: <br />– «Santiago, Santiago, <br />salvaste o nosso arraial; <br />salva sempre os Leoneses, <br />e a gente de Portugal.»</em></font></p> <p align="right"> <br /><i>Escavações Poéticas</i>; 1844</p> Poemas & Poetashttp://www.blogger.com/profile/08584894607083971312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-760144032466376260.post-23093323220168570742009-04-11T02:06:00.000+01:002009-04-11T02:06:00.801+01:00António Feliciano de Castilho<p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em></em></font></p> <p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em><strong>OS TREZE ANOS</strong></em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>(Cantilena)</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Já tenho treze anos, <br />que os fiz por Janeiro: <br />Madrinha, casai-me <br />com Pedro Gaiteiro.</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Já sou mulherzinha, <br />já trago sombreiro, <br />já bailo ao domingo <br />com as mais no terreiro.</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Já não sou Anita, <br />como era primeiro; <br />sou a Senhora Ana, <br />que mora no outeiro.</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Nos serões já canto, <br />nas feiras já feiro, <br />já não me dá beijos <br />qualquer passageiro.</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Quando levo as patas, <br />e as deito ao ribeiro, <br />olho tudo à roda, <br />de cima do outeiro.</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>E só se não vejo <br />ninguém pelo arneiro, <br />me banho co'as patas <br />Ao pé do salgueiro.</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Miro-me nas águas, <br />rostinho trigueiro, <br />que mata de amores <br />a muito vaqueiro.</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Miro-me, olhos pretos <br />e um riso fagueiro, <br />que diz a cantiga <br />que são cativeiro.</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Em tudo, madrinha, <br />já por derradeiro <br />me vejo mui outra <br />da que era primeiro.</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>O meu gibão largo, <br />de arminho e cordeiro, <br />já o dei à neta <br />do Brás cabaneiro,</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>dizendo-lhe: «Toma <br />gibão, domingueiro, <br />de ilhoses de prata, <br />de arminho e cordeiro.</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>A mim já me aperta, <br />e a ti te é laceiro; <br />tu brincas co'as outras <br />e eu danço em terreiro».</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Já sou mulherzinha, <br />já trago sombreiro, <br />já tenho treze anos, <br />que os fiz por Janeiro.</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Já não sou Anita, <br />sou a Ana do outeiro; <br />Madrinha, casai-me <br />com Pedro Gaiteiro.</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Não quero o sargento, <br />que é muito guerreiro, <br />de barbas mui feras <br />e olhar sobranceiro.</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>O mineiro é velho, <br />não quero o mineiro: <br />Mais valem treze anos <br />que todo o dinheiro.</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Tão-pouco me agrado <br />do pobre moleiro, <br />que vive na azenha <br />como um prisioneiro.</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Marido pretendo <br />de humor galhofeiro, <br />que viva por festas, <br />que brilhe em terreiro.</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Que em ele assomando <br />co'o tamborileiro, <br />logo se alvorote <br />o lugar inteiro.</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Que todos acorram <br />por vê-lo primeiro, <br />e todas perguntem <br />se ainda é solteiro.</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>E eu sempre com ele, <br />romeira e romeiro, <br />vivendo de bodas, <br />bailando ao pandeiro.</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Ai, vida de gostos! <br />Ai, céu verdadeiro! <br />Ai, páscoa florida, <br />que dura ano inteiro!</em></font></p> <p align="center"> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Da parte, madrinha, <br />de Deus vos requeiro: <br />Casai-me hoje mesmo <br />com Pedro Gaiteiro.</em></font></p> <p align="right"> <br /><i>Escavações Poéticas</i>; 1844 </p> Poemas & Poetashttp://www.blogger.com/profile/08584894607083971312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-760144032466376260.post-33591031303279304442009-04-10T02:03:00.000+01:002009-04-10T02:03:00.368+01:00António Feliciano de Castilho<p><font face="Verdana" size="3"><em></em></font></p> <p><font face="Verdana" size="3"><em>DEUCALIÃO E PIRRA</em></font></p> <p><font face="Verdana" size="3"><em> <br />Enfim, renasce o mundo. Vendo o triste, <br />o bom Deucalião vazia a Terra <br />e alto silêncio derramado em tudo, <br />a Pirra diz, chorando: <br />– Ó doce esposa, <br />doce irmã e hoje única de tantas <br />habitantes do Mundo, e que ligada <br />pelo amor, pelo sangue estás comigo. <br />e ao presente inda mais pelo infortúnio, <br />– do Nascente ao Poente, em toda a Terra. <br />só habitamos nós; só nós vivemos: <br />tudo o mais pelas ondas foi tragado, <br />e cuido que não tens inda segura <br />tua existência tu, nem eu a minha. <br />Estas nuvens que observo inda me aterram: <br />Ah, triste! Que farias, se arrancada <br />ao fado universal, sem mim te visses?</em></font></p> <p> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Onde, fria de susto, onde levaras <br />a planta vacilante, e quem seria <br />tua consolação na dor, no pranto? <br />Crê. minha amada, que, se o mar sanhudo <br />te escondesse nas sôfregas entranhas, <br />te houvera de seguir o aflito esposo: <br />sócio te fora em vida e sócio em morte. <br />Oh! Não ter eu de um pai herdado a indústria? <br />Renovaria agora a Humanidade. <br />alma infundindo na formada Terra. <br />Todo o género humano em nós se inclui. <br />Isto aos fados apraz, apraz aos deuses. <br />Ficámos para exemplo de que o Mundo <br />morada de homens foi. <br />Disse, e choravam. <br />Depois, tornando em si, resolvem ambos <br />recorrer aos oráculos sagrados, <br />da deusa Témis invocar o auxílio.</em></font></p> <p> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Não tardam: vão-se à margem do Cefiso, <br />inda revolto, sim, mas já com margens; <br />e, apenas pelas frontes, pelas vestes <br />os libados licores desparziram. <br />para o templo da deusa os passos torcem. <br />Manchava torpe musgo a frente, os tectos <br />da estância venerável, e jaziam <br />sem ministro, sem luz, sem culto as aras. <br />Como as sacros degraus tocado houvessem, <br />sobre a mádida terra os dois se prostram <br />e dão nas pedras ósculo medroso. <br />Oram depois assim: <br />– Se justas preces <br />tornam benignos os irados numes; <br />se a cólera dos Céus com ais se adoça, <br />dize-nos, deusa, dize-nos de que arte <br />podemos restaurar a espécie humana <br />e socorre, piedosa, o triste mundo. <br />Movendo-se a deidade, assim lhes fala: <br />– Do meu templo saí cobrindo as frontes: <br />soltai as vestiduras que vos cingem <br />e para trás depois lançai os ossos <br />da vossa grande mãe.</em></font></p> <p> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Tendo ficado <br />atónitos as dois espaço grande, <br />Pirra primeiro enfim rompe o silêncio. <br />Da divindade as leis cumprir não ousa <br />e, com trémula voz, perdão lhe roga, <br />porque teme, espalhando os ossos frios, <br />aos Manes maternais fazer injúria. <br />Depois disto, repetem, pesam, notam <br />as palavras do oráculo sombrio, <br />'té que Deucalião, o venerando <br />filho de Prometeu, com brandas vozes <br />serena a cara esposa e diz: <br />Se acaso <br />não revolvo ilusões no pensamento, <br />o oráculo da deusa é justo, é pio: <br />não nos ordena o mal, não quer um crime. <br />A grande mãe que ouviste, a mãe de todos, <br />é a Terra; a meu ver, são dela os ossos <br />as pedras; e essas diz que atrás lancemos.</em></font></p> <p> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Bem que esta inteligência agrade a Pirra, <br />esperanças com dúvidas se envolvem, <br />e ambos das ordens santas desconfiam. <br />Mas que mal faz tentar? Descem do templo: <br />cobrem a fronte; as túnicas descingem, <br />e logo para trás as pedras lançam. <br />Eis, – quem te dera crédito, ó portento, <br />se anosa tradição não te abonasse? – <br />eis que as pedras de súbito começam <br />a despir-se do frio e da rijeza <br />e, despindo a rijeza, a transformar-se. <br />Crescendo vão: mais branda natureza <br />lhes entra; e, se perfeito o vulto humano <br />logo ali se não vê, se vê contudo <br />em grosseiros sinais a semelhança, <br />quais; mármores apenas desbastados, <br />estátuas em começo, informes, rudes. <br />Partes que eram terrenas e sucosas <br />nas carnes e no sangue se convertem; <br />o que tem solidez e o que não dobra <br />muda-se em ossos, e o que dantes nelas <br />veia se nomeou conserva o nome. <br />Num breve espaço, enfim – mercê dos deuses! –, <br />as que arroja o varão varões se tornam <br />e as que solta a mulher mulheres ficam.</em></font></p> <p> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Por isto. somos fortes, somos duros, <br />aptos a empresas, próprios a trabalhos; <br />e em nosso esforço, na constância nossa, <br />claramente se vê que origem temos.</em></font></p> <p align="right"> <br /><i>As Metamorfoses</i> de Ovídio, Liv. I</p> Poemas & Poetashttp://www.blogger.com/profile/08584894607083971312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-760144032466376260.post-74864120757348933502009-04-10T02:00:00.000+01:002009-04-10T02:00:00.854+01:00António Feliciano de Castilho<p align="justify"><font face="Vrinda" size="3"><em></em></font></p> <p align="justify"><font face="Vrinda" size="3"><em><strong>O AVARENTO ROUBADO</strong></em></font></p> <p align="justify"> <br /><font face="Vrinda" size="3"><em>Harpagão</em></font></p> <p align="justify"><font face="Vrinda" size="3"><em>(Vindo a gritar desde o quintal até entrar em cena, com as feições desconcertadas, e no auge do terror) </em></font></p> <p align="justify"><font face="Vrinda" size="3"><em>Aqui de el-rei, ladrões! Ladrões, aqui de el-rei! <br />Querem-me assassinar. Mataram-me. Acabei. <br />Justiça, Deus do céu! Ó da ronda! Ó da guarda! <br />Estou perdido e morto! um chuço! uma espingarda! <br />Roubaram-me o meu sangue, os meus dez mil cruzados! <br />Quem seria? Quem foi? Persigam-me os malvados! <br />Quem mos trouxer co roubo of'reço-lhe um quartinho... <br />meia moeda... mais, que eu nunca fui mesquinho. <br />Para onde fugiu? Onde está ele? Aonde? <br />Corram, vasculhem tudo, a ver onde se esconde. <br />Ali não!... Aqui não!.. Agarra o bandoleiro! <br />Vê-lo cá vai... Agarra, agarra o meu dinheiro!</em></font></p> <p align="justify"> <br /><font face="Vrinda" size="3"><em>(Agita-se bracejando à doida, e agarra com a mão direita o braço esquerdo)</em></font></p> <p align="justify"> <br /><font face="Vrinda" size="3"><em>Filei-te, mariolão! Larga o que não é teu!... <br />Estou perdido e doido: o que apanhei fui eu. <br />E eu quem sou? Onde estou? Que hei-de fazer? Que posso? <br />Ah, meus ricos dobrões, se eu era todo vosso, <br />como pudestes vós deixar-me só no mundo? <br />Que situação! Que horror! Que inferno tão profundo! <br />Ninguém tem dó de mim; sou Lázaro; sou Job. </em></font></p> <p align="justify"> <br /><font face="Vrinda" size="3"><em>(Chora e soluça despropositadamente)</em></font></p> <p align="justify"> <br /><font face="Vrinda" size="3"><em>Perdi tudo, e ninguém de mim tem dó.</em></font></p> <p align="justify"> <br /><font face="Vrinda" size="3"><em>(Numa explosão de delírio)</em></font></p> <p align="justify"> <br /><font face="Vrinda" size="3"><em>Enforcar tudo a esmo, até que surda alguém <br />co meu cofre; aliás enforco-me eu também. </em></font></p> <p align="justify"> <br /><font face="Vrinda" size="3"><em>............................ </em></font></p> <p align="justify"> <br /><font face="Vrinda" size="3"><em>De que me hei-de valer? Demónio, eu te requeiro: <br />leva-me um olho... e as dois, mas dá-me o meu dinheiro!</em></font></p> Poemas & Poetashttp://www.blogger.com/profile/08584894607083971312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-760144032466376260.post-78131407196648299472009-04-09T01:54:00.000+01:002009-04-09T01:54:00.566+01:00António Feliciano de Castilho<p> </p> <p><font face="Verdana" size="3"><em>FESTA DO DEUS TÉRMINO</em></font></p> <p> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Finda a noite, alvoreça a costumada <br />festa do deus que nos comparte os campos.</em></font></p> <p> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Quer tosca pedra, ó Término, te embleme, <br />quer tronco informe pela mão de antigos <br />enterrado no chão, sempre és deidade.</em></font></p> <p> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Para ti donos dois, de opostas partes, <br />coroa e coroa te cingem; bolo e bolo <br />te vem de cá, de lá; como à porfia, <br />aí se te engenhou ara campestre.</em></font></p> <p> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Lá nos traz a açodada fazendeira <br />no seu testo quebrado as áscuas vivas <br />que apurou do borralho. O bom do velho <br />racha a lenha miúda, ergue-a em pirâmide; <br />sua a cravar no chão ramos festivos. <br />Agora em cascas secas ceva o fogo, <br />tendo em pé ao seu lado, em quanto assopra, <br />o filhinho abraçado a largo cesto. <br />Três vezes dali tira a lança ao fogo <br />punhados de áurea Ceres. Toma os favos, <br />que a filha pequenina lhe apresenta <br />pelo meio cortados. Trazem outros <br />o vinho; tudo aqui se liba às chamas.</em></font></p> <p> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Alvitrajada a turba espectadora <br />religioso silêncio atenta observa. <br />Com o sangue quente de imolada ovelha <br />que ufano purpureja o vulto informe <br />do comum velador, o honrado Término! <br />e quando, em vez de ovelha, haja leitoa, <br />não temais que se anoje. O bródio é franco <br />aos bons vizinhos, corações lavados, <br />que o celebram com fé, que jubilosos <br />vão tecendo um louvor a cada prato. <br />Ouvi, ouvi seu rústico descante; <br />é do deus do festejo o panegírico:</em></font></p> <p> <br /><font face="Verdana" size="3"><em>Salve, ó Término sacro, ó tu, que extremas <br />bairros, cidades, reinos! cada campo <br />fora sem ti um campo de batalha. <br />Manténs, desambicioso, insubornável, <br />as herdades em paz das Leis à sombra. <br />Se a terra Thireátide te houvera, <br />não ceifaria a morte heróis seiscentos <br />de Argos e Esparta no fatal duelo; <br />não se lera de Othriades o nome <br />num vão troféu de mentirosas armas, <br />que inda à Pátria infeliz custou mais sangue. <br />Capitolino Júpiter que diga <br />que invencível te achou, quando ao fundar-se-lhe <br />a área do templo, ao passo que os mais numes <br />para dar-lhe lugar retrocediam, <br />tu só, qual no-lo conta anosa fama, <br />ousas te resistir, ficar, ter parte <br />no templo augusto, e adorações com Jove; <br />e inda lá, por que nada alfim te ensombre, <br />sobre ti ao céu livre é rota a abóbada. <br />Nume de tão gentil perseverança, <br />em qualquer a leveza achará vénia; <br />contradição em ti suicídio fora. <br />Mantêm pois sempre, ó sacra sentinela, <br />mantém pois sempre, ó Término, teu posto. <br />Despreza os rogos do vizinho avaro; <br />não lhe concedas do terreno um ponto. <br />Ceder a humanos quem resiste a Jove?! <br />Vem bater-te enxadão, pulsar-te arado? <br />proclama a vozes: "Meus confins são estes; <br />"de além, tu; de aquém, ele; ambos coíbo. <br />"e em coibir aos dois aos dois protejo." <br />Uma estrada une Roma aos Laurentinos, <br />reino que o Teucro prófugo buscara; <br />lá, dos marcos o sexto em honra tua <br />vê que lanosa vítima se imola. <br />Término, já que aceitas cultos nossos, <br />ampara-nos; sustenta o nosso Império. <br />De cada povo o espaço é circunscrito; <br />são de Roma os confins confins do globo</em></font></p> Poemas & Poetashttp://www.blogger.com/profile/08584894607083971312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-760144032466376260.post-796431644071390572009-04-09T01:49:00.000+01:002009-04-09T01:49:00.635+01:00António Feliciano de Castilho<p><font face="Verdana" size="3"><em><strong></strong></em></font></p> <p><font face="Verdana" size="3"><em><strong>FESTA DAS SEMENTEIRAS:</strong></em></font></p> <font face="Verdana" size="3"><em> <p> <br />Nos Anais, onde as festas vêm marcadas, <br />festas em vão busquei das sementeiras. <br />Vendo-me a folhear, cuidoso, assíduo, <br />e entendendo-me o empenho, – "Em balde as buscas <br />rindo a Musa me diz; – "festas mudáveis <br />"das fixas no registro achar querias? <br />"Têm marcada estação, e o dia incerto; <br />"celebram-se no prazo em que estão prenhes <br />"de sementes os chãos. Gozai do ócio <br />"à farta manjedoira, ó bois coroados; <br />"lá virá logo a activa Primavera, <br />"à cerviz repoisada impondo jugo, <br />"com a renascente lida afadigar-vos. <br />"No abrigo do casal durma por ora <br />"a cansada charrua; a terra fria <br />"não deseja, não sofre, o ser rasgada." </p> <p> <br />Agora, que jaz finda a sementeira, <br />lavradores, dai folga ao solo, aos braços; <br />lustrem colonos sua aldeia em festa, <br />dêem a seus fogos a anual fogaça. <br />Télus e Ceres, madres das searas <br />já com seus mesmos grãos se propiciem, <br />já com as entranhas da suína fêmea. <br />De entre ambas nasce o grão que nos sustenta: <br />Ceres no-lo produz; mantém-no a Terra.</p> <p> <br />Ó consócias em dádiva tão rica, <br />deusas, por quem a rude antiguidade <br />se abrandou, se poliu, deixada a glande <br />por mais nobre manjar, dai aos colonos, <br />em prémio a seu trabalho e a seus desvelos, <br />colheita sem medida, e que os sacie.</p> <p> <br />Dai aumento contínuo aos germes tenros, <br />e que a neve à nascença os não destrua. <br />Em quanto disparzirmos as sementes, <br />alimpai-nos o céu com ventos brandos; <br />mal que enterrada for, mandai-lhe as chuvas; <br />e, pois são glória vossa as pingues messes, <br />que em vagas de oiro, ao longo dessas veigas, <br />rumorejam fartura, eia, salve-as <br />do ávido bico das aladas hostes! <br />Por ora, que inda a terra o grão recata, <br />vós, formigas povoai-o; usura grande <br />havereis dele, se aguardais a ceifa. <br />Livre de torpe alforra a messe vingue <br />e cor de palma saúde o Céu lhe influa; <br />que nem definhe pálida, nem perca <br />por excesso de viço e nímia pompa. <br />Joio, à vista nocivo, os chãos não brotem, <br />nem torpe aveia as sementeiras mescle. <br />Só se vejam medrar profusamente <br />as cevadas, o trigo, e a rija escándia, <br />a escándia, a fogos dois predestinada.</p> <p> <br />Lavradores, por vós tais são meus rogos. <br />Com os rogos meus os vossos se misturem, <br />por que uma e outra deusa os ratifiquem.</p> <p> <br />Ferina longo tempo a humanidade <br />só nutriu belicosos pensamentos. <br />Mais apreço que a relha a espada tinha, <br />e em foros de nobreza era anteposto <br />o corcel que peleja, ao boi que lavra. <br />Não trabalhava a enxada; ia-se em lanças <br />dos alviões o ferro; o ancinho em elmos. <br />Graças deusas, a vós, a vós, ó Césares <br />o Génio marcial agrilhoado <br />já sob os pés de Roma em vão se extorce. <br />O toiro aceite o jugo; o solo, os germes; <br />Ceres, filha da paz, com a paz triunfe.</p> </em></font> Poemas & Poetashttp://www.blogger.com/profile/08584894607083971312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-760144032466376260.post-25868468280109781702009-04-09T01:46:00.000+01:002009-04-09T01:46:01.168+01:00António Feliciano de Castilho<p align="justify"><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Antonio_Feliciano_de_Castilho.jpg" target="_blank"><img title="Antonio Feliciano de Castilho" style="border-top-width: 0px; display: block; border-left-width: 0px; float: none; border-bottom-width: 0px; margin-left: auto; margin-right: auto; border-right-width: 0px" height="367" alt="Antonio Feliciano de Castilho" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7lEMxg8dj4aowMEav8mJ41TRR8F3icPM7ExBQeh43kxVK1SSlzB98wu8TMyHlh1zD8oYMlMM57_-0XTT8qfZiRS_QdKB1DxNuHiZc5fCe65AFfhyphenhyphenePhYXhrJpXXnbVR8WEdEumM7c6yBW/?imgmax=800" width="325" border="0" /></a> </p> <p align="justify"><font face="Verdana" size="3"><em>António Feliciano de Castilho (1800-1875) nasceu e faleceu em Lisboa. Aos seis anos, por motivo do sarampo, cegou. Não obstante isso, seguiu estudos regulares, graças ao auxílio de seu irmão Augusto Frederico. Em 1817, matriculou-se na Universidade e em 1826 estava formado em Cânones. A seguir, fixou-se com o irmão em Castanheira do Vouga, perto de Águeda, e aí se conservou uns oito anos, em situação que muito favoreceu o estudo e a produção literária. Esteve na Madeira e nos Açores e visitou o Brasil. – Dedicou-se à tradução de obras em latim, francês e inglês.</em></font></p> <p align="justify"><font face="Verdana" size="3"><em>Obras Principais: </em></font></p> <p align="justify"><font size="3"><font face="Verdana"><em>Cartas de Eco e Narciso (1821); A Primavera (1822); Amor e Melancolia (1828); A Chave do Enigma; A Noite do Castelo (1836); Os Ciúmes do Bardo (1836); Crónica Certa e muito Verdadeira de Maria da Fonte (1846); Felicidade pela Agricultura (1849); Escavações Poéticas (1844); Presbitério da Montanha; Quadros da História de Portugal (1838); O Outono (1863).</em></font></font></p> <p align="justify"><font face="Verdana" size="3"><em>Traduções: </em></font></p> <p align="justify"><font face="Verdana" size="3"><em>A Lírica de Anacreonte; Metamorfoses e Amores, de Ovídio; Geórgicas, de Virgílio; Médico à Força, Tartufo, O Avarento, Doente de Cisma, Sabichonas e Misantropo, de Molière; O Sonho de uma Noite de S. João, de Shakespeare; Fausto, de Goethe.; D. Quixote de La Mancha, de Cervantes.</em></font></p> <dd> <blockquote></blockquote> <p align="right"><a href="http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/castilho.htm" target="_blank">Fonte: Projecto Vercial</a></p> <p><font face="Vrinda" size="3"><em><strong>Outros Links:</strong></em></font></p> <li><a href="http://purl.pt/index/geral/aut/PT/27666.html" target="_blank"><font face="Vrinda" size="3"><em>Obras de António Feliciano de Castilho na Biblioteca Nacional Digital</em></font></a><font face="Vrinda" size="3"><em> </em></font></li> <li><a href="http://www.arqnet.pt/dicionario/castilhoantoniof.html" target="_blank"><font face="Vrinda" size="3"><em>António Feliciano de Castilho no Dicionário Histórico de Portugal</em></font></a><font face="Vrinda" size="3"><em> </em></font></li> <li><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Feliciano_de_Castilho" target="_blank"><font face="Vrinda" size="3"><em>António Feliciano de Castilho na wikipedia</em></font></a><font face="Vrinda" size="3"><em> </em></font></li> <li><a href="http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/castilho.htm" target="_blank"><font face="Vrinda" size="3"><em>António Feliciano de Castilho no Projecto Vercial</em></font></a> </li> <li><a href="http://pt.wikisource.org/wiki/Autor:Ant%C3%B3nio_Feliciano_de_Castilho" target="_blank"><font face="Vrinda" size="3"><em>António Feliciano de Castlho na Wikisource</em></font></a> <p></p> </li> </dd> Poemas & Poetashttp://www.blogger.com/profile/08584894607083971312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-760144032466376260.post-35137508186250733692009-04-08T02:22:00.000+01:002009-04-08T02:22:00.709+01:00António Dinis da Cruz e Silva<p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em><strong>Soneto </strong></em></font></p> <p align="center"><em><font face="Verdana" size="3"></font></em></p> <p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em>Que aziago que foi, que dia infausto </em></font></p> <p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em>Aquele, em que vi tua formosura! </em></font></p> <p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em>Em que cheio de amor e de ternura </em></font></p> <p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em>Esta alma te ofertei em holocausto! </em></font></p> <p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em></em></font></p> <p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em>Teus olhos m'o fizeram ter por fausto, </em></font></p> <p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em>Teus belos olhos cheios de doçura, </em></font></p> <p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em>Mas logo me fez ver minha loucura </em></font></p> <p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em>Teu peito de rigores nunca exausto. </em></font></p> <p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em></em></font></p> <p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em>Ai! e quão mesquinho é, quão desgraçado </em></font></p> <p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em>Aquele, que como as mostras vão se engana </em></font></p> <p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em>De um angélico rosto sossegado!</em></font> </p> <p> </p> <p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em>Pois mil vezes encobre a vista humana </em></font></p> <p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em>Qual áspide cruel florido prado, </em></font></p> <p align="center"><font face="Verdana" size="3"><em>Um coração uma alma desumana.</em></font></p> Poemas & Poetashttp://www.blogger.com/profile/08584894607083971312noreply@blogger.com0