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sexta-feira, 21 de março de 2008

Luis Vaz de Camões

UM MOVER D'OLHOS

Um mover dolhos, brando e piadoso,
sem ver de quê; um riso brando e honesto,
quase forçado; um doce e humilde gesto,
de qualquer alegria duvidoso;


um despejo quieto e vergonhoso;
um repouso gravíssimo e modesto;
ûa pura bondade, manifesto
indício da alma, limpo e gracioso;


um encolhido ousar; üa brandura;
um medo sem ter culpa; um ar sereno;
um longo e obediente sofrimento;


esta foi a celeste fermosura
da minha Circe, e o mágico veneno
que pôde transformar meu pensamento.

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