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quarta-feira, 26 de março de 2008

Miguel Torga

Dá-me a tua mão

Dá-me a tua mão: vou agora te contar
como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.
De como entrei naquilo que existe
entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo
e que é a linha sub-reptícia.

Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo,
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio.

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