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segunda-feira, 26 de maio de 2008

Luís Miguel Nava

O tímpano e a pupila

Num dos pratos o mar, no outro um rio, agora que o tempo se desossa, que as pedras que piso se me enterram na memória e os caminhos se me aguçam na alma como lâminas, o pão molhado nas feridas, o pão ele próprio já também uma ferida, agora que o tempo, que já tanto compararam a um rio, mais não é do que uma leve exsudação nos muros, nas mãos, agora que o céu se encrespa e que pedaços de mundo arremessados com toda a força aos olhos revolteiam na treva antes de se extinguirem, mais magro do que a neve caminho, a alma aberta como uma ferida, ao longo da memória, onde se fundem o tímpano e a pupila.

Poesia Completa 1979-1994

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