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sábado, 10 de maio de 2008

Mário-Henrique Leiria

Manufactura anatómica

Pela praia inacreditavelmente exacta
caminham três objectos mágicos-paranóicos:
uma trança extremamente negra,
um chapéu de chuva erecto e antiquíssimo
e uma mesa toda branca, sangrando sempre.
Dirigem-se para o encontro delirante
do desejo,
onde a colher de cristal,
pondo fim a si mesma,
se transforma na conjugação da lua
e do mistério remoto.
Aí,
à meia-noite do mistério perdido,
todos os objectos adquirem aquela forma,
misto de vegetal e de ave marinha,
que se encontra pelas estradas
quando os falcões descem verticalmente.

se realizam as sagrações do rito ignorado.

se vendem e se compram os suicídios,
os olhos abandonados,
e todos os segredos realmente perfeitos.

se encontram os aviões
desfazendo-se lentamente,
muito lentamente.
Aí,
uivos e orquídeas
panteras e braços solitários.
Aí,
nós, tu e eu,
olhando o segredo
que existe nos poços milenários
onde um punhal se nos aponta eternamente.

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A trança extremamente negra,
o chapéu de chuva erecto e antiquíssimo
e a mesa toda branca, sangrando sempre

estão agora connosco...

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