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terça-feira, 3 de junho de 2008

João Penha

Última Vontade

O corpo num lençol e, assim metido
em minha mãe, donde nasci, a terra.
Nada do som do bronze, um som que aterra,
que descontenta um delicado ouvido.

Ninguém ouse soltar um só gemido
junto da cova que o meu corpo encerra;
longe, a minh’alma em outros mundos erra,
dêem-lhe a paz dum sempiterno olvido.

Nada de luto, de sanefas pretas;
onde eu fique, um recôndito jardim,
onde ela, a mais divina das Julietas,

se, por acaso, se lembrar de mim,
possa colher um ramo de violetas
com que inflore o seu peito de cetim.

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