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terça-feira, 10 de junho de 2008

José Tolentino Mendonça

A mão, o muro, o mundo


A mão preferida pelo silêncio
evoca sobre o muro
um alfabeto sem vincos
não é mão é uma luz que sobe pela colina
um atalho entre as estevas
um incêndio na mata
a rapariga louca,grita contra a noite
na enseada
A mão preferida pelo silêncio
folheia o livro dos incêndios
torna-se irremediavelmente suja
sobre o muro traça os vincos
os primeiros versos
A mão preferida pelo silêncio
não conhece repouso
quando atravessa a noite da enseada
é a mão trémula
pobre
assinalada pela escassez extrema dos nomes


de Longe Não Sabia(1997)

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