Amanhã, quando o chão for a construção da nudez
e houver, entre os teus olhos
e os meus, um súbito musgo,
não se repetirá, meu Amor,
o cambalear das palavras na garganta,
nem diremos a interdição dos lagos
na saliva esgotada no sal.
Alguns corpos inventam
a dimensão incondicionada da noite,
exposta e cúmplice como a terra.
Nós saberemos, lentamente,
o mel inquietante dos dedos.
Em nome da primeira vez que amei,
tracei na pele um movimento eterno de combustão e dor,
peças sensíveis da engrenagem
montada no fundo dos meus olhos
como um ciclo solar.
Hoje conheço os contornos de um lugar
pela quietude das ondas na maré vaza,
ou pela brisa espontânea do poente
e sei que o amor,
onde nenhuma contradição é necessária
é tudo quanto sobra no espaço vazio
entre o que somos e o que não somos.
Quando, nos lábios, começa um continente,
suspenso no apelo líquido dos beijos,
há um barco que cresce nos meus olhos
e, entre búzios verdes, escrevo água.
Nunca a brisa se demora entre as dunas,
onde os barcos navegam sobre a espuma.
Tudo é secreto, se maio se repete
nas marcas da pureza recusada.
Um rosto ou um rio me fascinam,
quando a raiva e o sossego
me revelam a nascente
e, no meio das palavras,
procuro apenas um gesto
ou uma sombra.
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