Google
 

sábado, 18 de outubro de 2008

Guilherme Braga

 

9 DE JULHO

Troa um férvido rebate

Como signal de combate

Dentro dos muros sagrados!

Sejamos dignos herdeiros

Dos indomáveis guerreiros

Dos nossos dias passados!

Rindo, affrontemos os crimes,

Como apóstolos, sublimes!

Valentes, como soldados!

Saudemos a ideia santa

Que aos pés dos livres supplanta,

Quebra, esmaga as gargalheiras!

A ideia que n’estes muros

Acossa os corvos escuros,

Ergue as sagradas bandeiras,

E, ante um deus mentido e falso,

Riu do algoz no cadafalso,

Riu das ballas nas trincheiras!

Sim! d’essa ideia aos impulsos

Que o Porto desprenda os pulsos

Dos ferros da iniquidade!

Entremos na lucta ardente,

Filhos da raça valente,

Filhos da heróica cidade!

Com phrenetico delírio

Entre a gloria, entre o martyrio,

Saudemos a liberdade!

A liberdade! a estrella redemptora,

Cheia de imensa luz,

Que fulgia, serena como a aurora,

Na fronte de Jesus!

A liberdade! a ideia tormentosa,

Mil vezes n’um só,

Que rugia, tremenda e clamorosa,

Na voz de Mirabeau!

Se, á luz de mil granadas coruscantes,

Lh’ergueram novo altar

Nossos pães, ao saudal-a agonisantes,

Na serra do Pilar,

Sem medo aos sabres nus entre as espadas

Que ferem nossa mãe

Sobre estas velhas aras derrubadas

Saudemol-a também!

Mas ah! Porque a seus pés a nova guarda assoma,

E altiva lhe consagra os hynnos do futuro,

Tem nas veias o arder o torvo filtro impuro,

Dos Borgias e veneno! O bálsamo de Roma!

O escuro umbra et nihil, que Roma tinha á porta,

Negreja agora aqui nas armas da cidade!

O altar é mausuléo ! Filhos da Liberdade,

Enramae de laureis a campa d’essa morta!

In “Poesias” – Ed. R.V. – Barcelos – 1898

Guilherme Braga

1845 – 1874

Sem comentários: