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sábado, 27 de dezembro de 2008

Fiama Hasse Pais Brandão

 

Sei que o cérebro o coração e o ventre

são uma só forma. O mesmo ponto claro

no alcatrão profundo da abóbada.

Que o cérebro murmura

como o estorninho que devora a verdura

que se estende diante dos olhos.

O ventre, esse, pernoita e imita-o

ao som do ritmo do coração

que digere os vegetais túrgidos

a que pude aconchegar os lábios.

Nada mais bascula no tecto

onde um vapor prende os intervalos.

Costelas, harpa da noite, com um som

de osso cristalino em que não toco

senão quando o cadáver se desenvolver

deste corpo ornamentado por flores frescas.

Assim um tronco esvaziado

pelo formigueiro por vezes confunde-se

com o meu cérebro, o coração e o ventre.

O luar eterniza-se como fundo

deste pensamento acerca das formas.

É uma pequena cabeça de formiga,

tão negra que a agradeço aos mestres clássicos

pelo negrume descrito nas cosmogonias.

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