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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Filinto Elísio

Ode à Esperança

1

Vem, vem, doce Esperança, único alívio

    Desta alma lastimada;

Mostra, na c'roa, a flor da Amendoeira,

    Que ao Lavrador previsto,

Da Primavera próxima dá novas.

2

Vem, vem, doce Esperança, tu que animas

    Na escravidão pesada

O aflito prisioneiro: por ti canta,

    Condenado ao trabalho,

Ao som da braga, que nos pés lhe soa,

3

Por ti veleja o pano da tormenta

    O marcante afouto:

No mar largo, ao saudoso passageiro,

    (Da sposa e dos filhinhos)

Tu lhe pintas a terra pelas nuvens.

4

Tu consolas no leito o lasso enfermo,

    C'os ares da melhora,

Tu dás vivos clarões ao moribundo,

    Nos já vidrados olhos,

Dos horizontes da Celeste Pátria.

5

Eu já fui de teus dons também mimoso;

    A vida largos anos

Rebatida entre acerbos infortúnios

    A sustentei robusta

Com os pomos de teus vergéis viçosos.

6

Mas agora, que Márcia vive ausente;

    Que não me alenta esquiva

C'o brando mimo dum de seus agrados,

    Que farei infelice,

Se tu, meiga Esperança, não me acodes?

7

Ai! que um de seus agrados é mais doce

    Que o néctar saboroso;

É mais doce que os beijos requintados

    Da namorada Vénus,

A que o Grego põe preço tão subido.

8

Vem, vem, doce Esperança, que eu prometo

    Ornar os teus altares

Co'a viçosa verbena, que te agrada,

    Co'a linda flor, que agora,

Enfeita os troncos, que te são sagrados.

Filinto Elísio, in "Odes"

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