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domingo, 18 de janeiro de 2009

Egito Gonçalves

 

Sobre os Poemas

1

Há poetas que constróem o mundo nos cafés,

outros que o fazem no claro-escuro

entre as prisões e os intervalos.

Há poetas que aguardam cartas de apresentação

nem eles sabem para onde:

para a vida que falhou?, para a manteiga

que lhes foi negada?

Mas todos têm um sonho, todos

se esforçam por valer o paão que amassam

- lançam seu delicado peso na balança.

Eles sabem, esses poetas,

que nada é eterno e imutável.

2

Tal a "Cadeia de Santo Onofre:

Copie o texto: envie a cinco amigos"...

há poetas que se multiplicam, fendem

a vaga limite, impedem o suicídio,

explicam a vida, argamassam

dedicação e raiva.

Girassóis, rodam sobre si mesmos,

indicam o ponto onde a luz se abre.

3

Há poetas cuja poesia reagrupa, fornece

uma canção à cidade, martela

os que dormem alheios, move-se

silenciosamente ao jeito das estátuas.

Pacífica vaca ruminando na linha do rumo;

rosto impreciso solidificando breve;

ténue tinta azul no papel claro...

Os poetas têm

como os peles-vermelhas do cinema

o seu fumo e os seus cobertores.

4

Há poetas que renegam cartas

de apresentação para o arrivismo;

recusam a mão ao salário da trampa;

não enfeixam o nome e a desonra

nos telegramas do medo.

Enquanto bebem o café um histrião nocturno

arenga; executa o seu número; recebe

por nova pirueta uma ajuda de custo.

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