Canção
A pastorinha morreu, todos estão a chorar. Ninguem a conhecia e todos estão a chorar.
A pastorinha morreu, morreu de seus amôres. Á beira do rio nasceu uma arvore e os braços da arvore abriram-se em cruz.
As suas mãos compridas já não acenam de alêm. Morreu a pastorinha e levou as mãos compridas.
Os seus olhos a rirem já não troçam de ninguem. Morreu a pastorinha e os seus olhos a rirem.
Morreu a pastorinha, está sem guia o rebanho. E o rebanho sem guia é o enterro da pastorinha.
Onde estão os seus amôres? Ha prendas para Lhe dar. Ninguem sabe se é Elle e ha prendas para Lhe dar.
Na outra margem do rio deu á praia uma santa que vinha das bandas do mar. Vestida de pastora p'ra se não fazer notar. De dia era uma santa, à noite era o luar.
A pastorinha em vida era uma linda pastorinha; a pastorinha mórta é a Senhora dos Milagres.
Almada Negreiros, in 'Frisos - Revista Orpheu nº1'
2 comentários:
Fazendo uma visita e agradecendo pela oportunidade de acesso à esse excelente catálogo de poetas da língua portuguesa.
saudações poéticas!
Desejo deixar minha mensagem de glorias a este belíssimo espaço cultural, eu estou maravilhada com tudo que aqui pude ler, voltarei muitas vezes, aqui encontrei o que procurava de boa cultura, com admiração,
Efigênia Coutinho
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