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domingo, 15 de fevereiro de 2009

Almada Negreiros

 

Canção

A pastorinha morreu, todos estão a chorar. Ninguem a conhecia e todos estão a chorar.

A pastorinha morreu, morreu de seus amôres. Á beira do rio nasceu uma arvore e os braços da arvore abriram-se em cruz.

As suas mãos compridas já não acenam de alêm. Morreu a pastorinha e levou as mãos compridas.

Os seus olhos a rirem já não troçam de ninguem. Morreu a pastorinha e os seus olhos a rirem.

Morreu a pastorinha, está sem guia o rebanho. E o rebanho sem guia é o enterro da pastorinha.

Onde estão os seus amôres? Ha prendas para Lhe dar. Ninguem sabe se é Elle e ha prendas para Lhe dar.

Na outra margem do rio deu á praia uma santa que vinha das bandas do mar. Vestida de pastora p'ra se não fazer notar. De dia era uma santa, à noite era o luar.

A pastorinha em vida era uma linda pastorinha; a pastorinha mórta é a Senhora dos Milagres.

Almada Negreiros, in 'Frisos - Revista Orpheu nº1'

2 comentários:

valterpoeta.com disse...

Fazendo uma visita e agradecendo pela oportunidade de acesso à esse excelente catálogo de poetas da língua portuguesa.

saudações poéticas!

Efigênia Coutinho ( Mallemont ) disse...

Desejo deixar minha mensagem de glorias a este belíssimo espaço cultural, eu estou maravilhada com tudo que aqui pude ler, voltarei muitas vezes, aqui encontrei o que procurava de boa cultura, com admiração,
Efigênia Coutinho