A TOMADA DE COIMBRA
(Xácara)
I
Caminhavam frades bentos
do mosteiro de Lorvão,
quando acharam Dom Fernando
no meio de Carrião:
era Dom Fernando o Rei,
e seu reino era Leão.
– D. Fernando, D. Fernando,
novas de consolação!
cavaleiros não nos oiçam;
manda sair quantos são.
Deus te nos manda dizer
que tens Coimbra na mão.
«Descuidados estão Moiros
do poderio cristão;
deles o havemos sabido
por sua conversação,
quando nos vêm de Coimbra
a montear em Lorvão.
«Fingimos uma romagem
por livrar de suspeição,
e viemos dar-te aviso,
grão Rei, senhor de Leão.
Manda logo fazer prestes
todo o ginete e peão.
Como três meses passaram,
era por Janeiro então,
el-Rei é sobre Coimbra,
e os de dentro em confusão;
mas vale o muro à cidade,
que é mui boa defensão.
Em que traz muitos vassalos
de caldeira e de pendão,
em que traz o Cid Rui Dias,
mais forte que quantos são,
não acaba de a tomar,
sete meses já lá vão.
..........................
Cristãos, ganhastes Coimbra,
mais que jóia oriental;
mais tu, Coimbra, ganhaste,
que tens fonte baptismal,
e a tua mesquita grande
verás logo em catedral.
Dar meia cidade aos monges
queria o Rei liberal,
mas os monges só quiseram
uma casa monacal,
contentes com Lorvão santo,
seu paraíso terreal.
Foi-se el-Rei a Compostela
com sua gente leal.
De atabales e trombetas
soa estrondo festival;
abrem-se as portas do templo
bem armado e triunfal.
Todos co'o joelho em terra
como cumpre em caso tal,
diziam de agradecidos
ao valedor imortal:
– «Santiago, Santiago,
salvaste o nosso arraial;
salva sempre os Leoneses,
e a gente de Portugal.»
Escavações Poéticas; 1844
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