Google
 

terça-feira, 25 de março de 2008

Florbela Espanca

     Mistério

     Gosto de ti, ó chuva, nos beirados,
     Dizendo coisas que ninguém entende!
     Da tua cantilena se desprende
     Um sonho de magia e de pecados.

     Dos teus pálidos dedos delicados
     Uma alada canção palpita e ascende,
     Frases que a nossa boca não aprende,
     Murmúrios por caminhos desolados.

     Pelo meu rosto branco, sempre frio,
     Fazes passar o lúgubre arrepio
     Das sensações estranhas, dolorosas…

     Talvez um dia entenda o teu mistério…
     Quando, inerte, na paz do cemitério,
     O meu corpo matar a fome às rosas!

Sem comentários: