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quarta-feira, 2 de abril de 2008

Camilo Pessanha

ESTATUA

 

Cancei-me de tentar o teu segrêdo:
No teu olhar sem côr,—frio escalpello,—
O meu olhar quebrei, a debate-lo,
Como a onda na crista d'um rochêdo.


Segrêdo d'essa alma e meu degrêdo
E minha obcessão! Para bebe-lo
Fui teu labio oscular, n'um pesadêlo,
Por noites de pavor, cheio de medo.


E o meu osculo ardente, allucinado,
Esfriou sobre o marmore correcto
D'esse entreaberto labio gelado...


D'esse labio de marmore, discreto,
Severo como um tumulo fechado,
Serêno como um pélago quieto.

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