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sábado, 12 de abril de 2008

Eugénio de Andrade

Algumas Reflexões Sobre a Mulher


Elas são as mães:
rompem do inferno, furam a treva,
arrastando
os seus mantos na poeira das estrelas.


Animais sonâmbulos,
dormem nos rios, na raiz do pão.


Na vulva sombria
é onde fazem o lume:
ali têm casa.
Em segredo, escondem
o latir lancinante dos seus cães.


Nos olhos, o relâmpago
negro do frio.


Longamente bebem
o silencio
nas próprias mãos.


O olhar
desafia as aves:
o seu voo é mais fundo.


Sobre si se debruçam
a escutar
os passos do crepúsculo.


Despem-se ao espelho
para entrarem
nas águas da sombra.


É quando dançam que todos os caminhos
levam ao mar.


São elas que fabricam o mel,
o aroma do luar,
o branco da rosa.


Quando o galo canta
Desprendem-se
para serem orvalho.

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