SONETO
1
Cheios de espessa névoa os horizontes,
Espantosas voragens vem saindo!
Foi-se o Sol entre as nuvens encobrindo,
Voltando para o mar os quatro Etontes
Caiu a grossa chuva pelos montes,
Os incautos pastores aturdindo;
E engrossados os rios vão cobrindo
Com embate feroz as curvas pontes
Com medonho estampido, navorosos.
Os longos ecos dos trovões soando.
A rezar nos pusemos temerosos.
Parou a chuva; correm sussurrando
Os torcidos regatos vagarosos;
Não me atrevo a sair, fico jogando.
2
Ao som dos duros ferros que arrastava,
A lira de ouro Corydon tangia:
De Márcia o doce nome repetia,
Mas no meio do canto soluçava.
No rosto macerado, que enfiava,
O lagrimoso pranto reluzia,
E nos olhos, que aos altos céus erguia,
O pensamento intrépido voava.
Não se assombra de ventos insofridos,
Nem com ousado lenho arar intenta
O pólo do futuro nebuloso;
Menos chora terrenos bens perdidos.
De pouco um peito grande se contenta:
Antes quer ser honrado que ditoso.
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