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terça-feira, 15 de abril de 2008

Sebastião da Gama

Toada do Ladrão


A mim não me roubaram
Porque eu nada tinha.
Mas roubaram tudo
À minha vizinha.


Vejam os senhores:
Roubaram-lhe a ela
A filha mais grácil,
A filha mais bela.


Nem na sua casa,
Nem na freguesia,
Sequer no concelho,
Melhor não havia.


Prendada, bonita...
E depois... uns modos
De matar a gente,
De prender a todos.


Dizia a vizinha
Que era o seu tesoiro;
Que valia mais
Que a prata e que o oiro.


Que a não trocaria
Por coisa nenhuma;
Que filhas assim
Só havia uma.


Pois hoje um ladrão
Que há muito a mirava
Entrava-lhe em casa
Para sempre a levava.


É a minha vizinha
Dona de solares
E de longas terras
Com rios e pomares.


E de jóias raras
Que ninguém mais tinha,
Ei-la num instante
Pobrinha... pobrinha...


(Tem pomares ainda,
Tem jóias, tem oiro...
Mas de que lhe servem
Sem o seu tesoiro?)


- Vizinha e senhora,
Não me queira mal!
Se há ladrões felizes
Sou o mais feliz
Que há em Portugal.

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