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segunda-feira, 14 de abril de 2008

Soares de Passos

 Montanha com gelo

Ai, adeus! acabaram-se os dias
Que ditoso vivi a teu lado;
Soa a hora, o momento fadado;
É forçoso deixar-te e partir.
Quão formosos, quão breves que foram
Esses dias d'amor e de ventura!
E quão cheios de longa amargura
Os da ausencia vão ser no porvir!


Olha em roda estas margens virentes:
Já o outono lhes despe os encantos;
Cedo o inverno com gélidos mantos
Baixará das montanhas d'além.
Tudo triste, sombrio, e gelado,
Ficará sem verdura nem flores:
Tal meu seio, privado d'amores,
Ficará de ti longe também.


Não sei mesmo, não sei se o destino
Me dará que eu te abrace na volta...
Ai! quem sabe onde a vaga revolta
Levará meu perdido baixel ?
Sobre as ondas, sem norte, e sem rumo,
Açoitado por ventos funestos,
Sumirá por ventura seus restos
Nas voragens d'ignoto parcel.


Mas ah! longe esta ideia sombria !
Longe, longe o cruel desalento !
Após dias d'amargo tormento
Virão dias mais belos talvez.
Dá-me ainda um sorriso em teus lábios,
Uma esp'rança que esta alma alimente,
E na volta da quadra florente
Eu co'as flores virei outra vez.


Mas se as flores dos campos voltarem
Sem que eu volte co'as flores da vida,
Chora aquelle que em tumba esquecida
Dorme ao longe seu longo dormir;
E cada ano que o sopro do outono
Desfolhar a verdura do olmeiro,
Lembra-te inda do adeus derradeiro,
D'este adeus que te disse ao partir!

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