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quarta-feira, 9 de abril de 2008

Vasco de Graça Moura

Poema de combate

indecente rimar, uma criança

a esbugalhar os olhos de pavor.

uma cidade a arder. a governança

do mundo a esquivar-se: a sua dança

rima obscenamente com timor.

indecente rimar. lua assassina.

uma rajada e outra. um estertor.

um uivo, um corpo, um morto em cada esquina.

honra do mundo que se contamina

no arame farpado de timor.

indecente rimar sândalo e vândalo.

sacode a noite apenas o tambor

das sombras acossadas. tens o escândalo

que te invadiu a alma, mas comanda-lo?

onde te leva o grito por timor?

indecente rimar pois também rimam

temor, tremor, terror e invasor

por mais hipocrisias que se exprimam

enquanto de hora a hora se dizimam

os restos do que resta de timor.

indecente rimar: mas nas florestas

nunca rimaram tanta raiva e dor

a às vezes são precisas rimas destas,

bumerangue de sangue com arestas

da própria carne viva de timor.

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