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segunda-feira, 2 de junho de 2008

João Rasteiro

(H)á moira encantada

Já te foi tão próxima essa morada de leões e de gazelas

junto à gafaria, a solidão das fronteiras

onde o sussurro do branco se corrói

exercitando-se horto no coração transmudo

das mulheres níveas e morenas.

Hoje sabes que o mistério da luz açoita os olhos

até que o canto de al-mutamid corra o interior das gusas

que alimentam tendões de colos cortados

batendo por dentro das bocas para ostentar a flor

mas nada te preencherá a cegueira

das fábulas na margem do arade

a taifa rebelde rasgando a intimidade dos deuses

pela insídia da cor da terra e dos espaços ermos.

Frutificarás então artéria sísmica

do amarelo envelhecido e que alumbra ancestral

em opulência de imprevisíveis astros

que irradiam um cheiro a tâmaras nocturnas

sob a sede guardada em casulos abertos nos lábios do sal

um espaço errático igual aos meandros da água

o sulco da pedra como um covil

em que o poeta acúleo tangia cordas de alaúde.

Quem guardará na cozedura sublime dos fornos

a cintilação das pequenas ruas na perfuração das muralhas

que se tornam uma mantilha de ouro sob os céus?

 

João Rasteiro - 2008

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