A BOCAGE
Caríssimo Bocage, quando leio
Teus versos de harmonia inigualada,
Ao pé dos quais os meus são devaneio.
Despidas frases que não valem nada.
Invejo o fogo que dos céus te veio,
Invejo a tua ideia iluminada,
Invejo a tua voz que é um gorjeio
De rouxinol carpindo à namorada!...
Ao meditar depois na desventura
Que a vida te frustrou, virou do avesso,
A bem dizer do berço à sepultura,
Já não te invejo os dons de tanto apreço:
Antes vulgar eu seja, sem cultura,
Do que pagar a glória por tal preço.
GV, in Flauta Enamorada, 1961
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