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segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Francisco Rodrigues Lobo

 

CANTIGA


Descalça vai para a fonte,
Leanor pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.


A talha leva pedrada,
Pucarinho de feição,
Saia de cor de limão,
Beatilha soqueixada;
Cantando de madrugada,
Pisa as flores na verdura:
Vai fermosa, e não segura.


Leva na mão a rodilha,
Feita da sua toalha;
Com üa sustenta a talha,
Ergue com outra a fraldilha;
Mostra os pés por maravilha,
Que a neve deixam escura:
Vai fermosa, e não segura.


As flores, por onde passa,
Se o pé lhe acerta de pôr,
Ficam de inveja sem cor,
E de vergonha com graça;
Qualquer pegada que faça
Faz florescer a verdura:
Vai formosa, e não segura.


Não na ver o Sol lhe val,
Por não ter novo inimigo;
Mas ela corre perigo,
Se na fonte se vê tal;
Descuidada deste mal,
Se vai ver na fonte pura:
Vai fermosa, e não segura.

Também nós imos já perto da Fonte;
E, Em quanto no cantar nos entretemos,
Temo que a vinda cá pouco nos monte.


Dizes bem; melhor é nos desviemos,
Por que nos não divisam nem por sonho,
Que, uma só que nos veja, as não veremos.


E mais, se eu não vou cego, daqui ponho
Que são as que lá assomam na treposta.
De só cuidares isso me envergonho.


Tu não me queres crer? Vá sobre aposta.
Mui bem dizes, daquelas são sem falta;
Passas tu como furão pola posta?


Madanela é de todas a mais alta,
Que aparece vestida de pombinho;
Também Andresa vai: nada nos falta.


O adufe ouço, ouço o pandeirinho;
Vamo-nos por detrás deste valado:
Iremos encontrá-las ao caminho.
Afasta ora estas silvas com o cajado.

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