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terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Eduardo Pitta

 

Temos das coisas a lembrança das viagens
ignotas. E o sentido delas estilhaça
no primeiro espelho da memória.

Como aquelas noites muito brancas
povoadas de crimes inenarráveis.

Também as nossas mãos, vorazes,
tacteiam um percurso de sangue:
o de inquestionáveis desígnios do amor.

De algumas perguntas tememos o som e o desenlace
delas, noite adiante, resguardo nenhum.
Sabemo-las assim lentas, um cristal
mais afiado, um abandono mais duro.

Gosto da claridade penumbrosa
de adolescentes indecisos.

Gosto deles assim lentos
inaptos, vorazes, sedentos
do labor meticuloso e da
antiquíssima sabedoria de outras mãos.

Anjos devastados, senhores do caos
é para longe que partem.

O primeiro dos vinhos, bebido
da ânfora para a boca, alerta-os —

regressam agora às palavras e
aos gestos de antigamente.

Cumprem-se no jogo.
E ninguém suspeita de nada.

 

Fonte: Site Eduardo Pitta - Poemas

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