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Falo de uma terra
intacta e pura
sem a memória dos mortos
que ainda não morreram.
Falo dos corpos (in)sepultos
dos vivos que ainda não nasceram
e despedaço-me na ossatura do sonho
no litoral da amargura.
Falo pela boca dos canhões
pela terra de ninguém
pelos filhos de uma noite
que vem da lonjura dos tempos...
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Doloroso compasso de espera
este de auscultar
os dias que nos ficaram
para habitar.
Somos uma fauna inóspita,
uma raiz tentacular
árida e seca
como a sede.
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Perseguem-me fantasmas
de outros tempos.
Árvores despidas
que o horizonte plúmbeo
ajudou a recortar
com uma nitidez
de pesadelo.
E tudo agora me diz
dos tempos em que
menino
me deleitava no estalar
de folhas em carne viva.
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Um cão de angústia progride
na cidadela sitiada
enquanto te demoras
no sorvo
no arquejo largo
no topo da saliva
enquanto te entreabro
as pernas altas
enquanto te humedeço
o musgo tenro
para te ferir com a boca
cheia de vidro moído.
♠
Continuamos no limiar
do osso.
Ainda ontem
cristalizávamos ao compasso
assíncrono
da respiração de quem nos ficou
pelo caminho.
Infalíveis,
fracturamos o sonho.
Fazemos de conta.
Evoluímos com feroz destreza
enquanto o medo se perfila.
♠
Inútil dizer-te
da cidade
que vou perdendo.
Cada uma destas pedras
me diz
da distância entre nós dois.
Permaneço
(todo silêncio
e portas).
Muito nítida,
a nostalgia fere
à transparência de um arbusto.
♠
Adivinhamos inquietos os olhos
e o poema dos dois corpos.
A nossa vida tem sido um passar
sem pedir licença.
Um dia e outro dia depois,
como quem adestra relâmpagos
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