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Foi então que te vi inteiriçado
em facas.
Os teus olhos abriam dois
buracos na manhã.
E de aí um medo antigo de
tropeçar
na primitiva e inominável insolência
do teu abandono.
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Agora que o sorriso envidraçado das quizumbas
nos envolve, os dias
a enrolarem-se-nos aos pés.
Somos daqueles a quem o exílio doeu
como dói uma noite de vidro
coices e violinos.
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Temos um tempo breve para amar
e todos os dias, à mesma hora,
é o deflagrar dos corpos à distância.
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E se eu te dissesse de todos os imponderáveis
plausíveis ?
Se eu te dissesse das histórias
que se não dizem,
das histórias pubescendo
em tardes franjadas de suor e tédio ?
Se eu te dissesse, enfim, dos arquétipos
da memória e dos terrores nocturnos ?
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A manhã toda topázio,
sensação urbana de tendões, poros
e carne.
Um grito gritado ao contrário,
diluído em chama, salgado.
A manhã era a labareda do teu corpo.
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Agora que as palavras secaram
e se fez noite
entre nós dois,
agora que ambos sabemos
da irreversibilidade
do tempo perdido,
resta-nos este poema de amor e solidão.
No mais é o recalcitrar dos dias,
perseguindo-nos, impiedosos,
com relógios,
pessoas,
paredes demasiado cinzentas,
todas as coisas inevitavelmente
lógicas.
Que a nossa nem sequer foi uma história
diferente.
A originalidade estava toda na pólvora
dos obuses, no circunstanciado
afivelar
dos sorrisos à nossa volta
e no arcaísmo da viela onde fazíamos amor.
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