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A vida é uma ferida ?
O coração lateja ?
O sangue é uma parede cega ?
E se tudo, de repente ?
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Ocupamos a paisagem
que, desocupada, se ocupa
de nós.
Tempo de ocupação, este.
Somos o estrangeiro
que o silêncio de paredes
brancas e esquecidas
perturbou.
Extasiado ao menor rumor
de um estio
duro e claro
— todo lâminas.
Perplexo da memória
destes dias
sufocados em tédio
e cal.
Da palavra para a pedra
arrastando-se aquáticos
— as mais sazonadas
as menos polidas.
Crestada que foi,
na raiz do tempo, toda
a subliminar tentativa
de retorno.
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Pouco tenho para alinhavar.
Dizer-te que estou longe
não apaga esta ausência que,
inelutavelmente,
nos distanciou.
Cercam-nos muros de silêncio
opresso.
A própria hera não ousa
na despudorada nudez branca
de paredes que interditam
a fantasia ao forasteiro
voraz.
O gesto tolhido,
o pretexto adiado
e a memória a estiolar.
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