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quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Eduardo Pitta

 

Nostalgia haurida
no dédalo da memória.

No limite do cânhamo
o direito à diferença
é-lhes subliminar.
Vontade desatinada.

Monossilabamos o medo
com que nos piores momentos
digerimos os trinta dinheiros.

Londres tem o sossego
o verde e os pombos
que não vejo
nas vilas do meu país.

E um rio, parques, o tube.

Anos a fio a vida lhe passou sempre
ao lado. Nunca exactamente ali.
Conhecera talvez demasiada gente,

com alguma dela aprendera o pouco
que valia.
Logrou esquivar-se

aos rituais da memória.
Persistiu com método e argúcia
bastantes. Estava

nos mares do sul
quando percebeu que tudo era nada.
E nada fez.

A cidade incendiada pelo olhar desprevenido.

Pouco sabia de espelhos: tem
agora de viver no meio deles.

Nada o desola. Chegou tarde
e fulge-lhe vontade nenhuma.

O móbil era outro
mas foste capaz
de correr comigo
atrás da loucura
mais vertiginosa.

Nenhum de nós passeia impune
pelos retratos: fazem-nos doer
os recessos da memória.

Deles saltam, por vezes, sustos,
primeiras noites, secreta
loucura, lábios que foram.

Interditam-nos sempre.
Trepam-nos pelo torpor
mais desprevenido, subsistem.

A sua perenidade é volátil
e cheia de venenosos ardis.
Um sopro no acetato.

Distintos, os seus contornos
não são nunca
os que supomos.

Fonte: Site Eduardo Pitta - Poemas

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