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Inapelavelmente próximo
descubro-lhe no linho
os olhos calcinados.
Nenhuma água
para tanta cinza.
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Vejo-os chegar à velocidade
da erva
inquietos mais que desolados.
Vêm mudos, sujos
muitas vezes, periféricos
a qualquer melancolia.
O campo, a cidade
e mesmo as gentes
lhes são estrangeiras.
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Poucos nos embaraçam já
mas uns quantos cintilam na névoa
da beira-rio,
o basalto a quebrar-lhes
os quadris.
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Transportam-se com a lentidão
de felinos.
Na ganga coçada dissimulam
pouco, e mal, o lume
das coxas.
Descem à tribo amotinada
que os surpreende
tesudos.
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A história deles pode ter sido,
por vontade alheia,
a simulação excessiva
e luminosa
de outra culpa maior.
Ainda que Inês fosse um chavalo
Pedro não andaria ali à toa
e a legenda dos algozes trucidados quadra
de viés numa corte predadora.
Importa pouco a conexão
estrangeira, as dezassete léguas
de um cortejo
siderante como aqueloutro que à luz
de seiscentas arrobas de cera
para sempre mediatizou
D. João Afonso Telo, miminho
da cantareira de el-rei.
A boca à mercê de novas dominações.
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Temos sido espectadores
de um tempo rarefeito.
Tudo nos inibe
e tolhe o passo.
E mesmo somos o intruso
na querela.
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Anna Soror e Wolfgang Peterson
comeram à nossa mesa.
D. Miguel não veio
a tempo,
distraiu-se com a passarada
de Mount Desert.
Ali estivemos, contando-nos.
Recordações do Village,
do barco para Pines.
Divine madness: num lapso
de febre
a lâmpada devolve-nos
o rosto glabro do castelhano
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