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sábado, 14 de março de 2009

Antero Monteiro

INSÓNIA

Um dois e três carneiros
saltitam espertos
Mais três como os primeiros
— e eu de olhos abertos…


Sete oito nove dez
fugidos ao seu dono
Já são quarenta pés
— e eu à espera do sono…


Onze bolas de lã
tropeçando à marrada.
Já é quase manhã
— e quanto a dormir nada…


Uma dúzia balindo
(e só sabem balir)
Que rebanho tão lindo
de horas sem dormir!…


Mais cinco dezassete,
mais quatro vinte e um
Esta noite promete
— e eu sem sono nenhum…


Vinte e dois vinte e três…
E mais um par recolho
Já passaram mais dez
— e eu sem pregar olho…


Já lá vão trinta e quatro
se não erro ou não esqueço
Lá vem mais um pacato
— e eu cá não adormeço…


Chega meia centena
a tropeçar na lama
Quem de mim terá pena
sempre às voltas na cama?


Já são oitenta e cinco
mais quinze faz os cem
Eles brincam e eu brinco
sem ter sono também…


Ai se o lobo nocturno
atacasse… — que horror!
Por isso é que não durmo
É que eu sou o pastor…


In A Lia Que Lia Lia, Elefante Editores, 1999

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