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sábado, 28 de março de 2009

António Botto

 

Transformação

É noite: na escuridão

As nuvens parecem fumo

E não deixam ver a Vénus,

Linda estrela da manhã!

Vai rebentar um chuveiro

Porque a ventania pucha

Uma grande tempestade:

Gaivotas em terra, fujo -

E fico ao pé de um guindaste;

Mas, nisto, uma divina claridade

- É o dia que rompe e a luz do Sol

Já numa tira ou faxa cor de rosa

Com misturas de azul e um verde claro

Que eu nunca tinha visto pelos céus!,

A chuva suspendeu, não houve nada

Senão a maravilha sem par

De uma linda madrugada!

Fiquei, sozinho, a fixar

Os astros que se abraçaram

Na luz de um silêncio quente

E em que se ouvia somente

No meu coração cheio de amor,

Mas sempre pronto para amar,

O riso inúmero das ondas

Na infinita vastidão do mar!

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