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segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Filinto Elísio

Tinha de Fachos Mil a Noite Ornado

1

Tinha de fachos mil a noite ornado

    A argentada Princesa:

    De amor, graça e beleza

O campo etéreo Vénus povoado.

2

A Terra, com perfume precioso

    Em torno recendia;

    E plácido dormia

Sobre a dourada areia o pego undoso;

3

Quando veio roubar a formosura

    De tudo o que é criado,

    Márcia, fiel traslado

Da beleza do Céu, sublime e pura;

4

Com Lírios, que estendeu, vestiu ufana

    A forma divinal;

    Em aceso coral

Tingiu, sorrindo, a boca soberana,

5

As madeixas tomou das veias de ouro,

    Nos olhos pôs safiras,

    Que das setas, que atiras,

São, fero Amor, o mais caudal tesouro.

6

Todos seus dons lhe pôs o Céu no peito;

    Como orna o Régio Sposo,

    C'o enfeite mais custoso,

A Princesa, a quem rende a alma, sujeito.

7

Eu vi afadigados os Amores,

    E as Graças, que cantavam

    Enquanto se moldavam

Seus graciosos gestos vencedores.

8

Das Sereias o canto deleitoso

    Lhe nasceu sem estudo;

    E o dom de enlevar tudo

Envolto veio em seu sorriso airoso.


Filinto Elísio, in "Sonetos"

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