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sexta-feira, 27 de março de 2009

António Botto

 

O Campino

Campino do Ribatejo!

Figura que nasce e morre

Nos campos da beira-mar!

Tão portuguesa e tão bela

Na sua simplicidade

Que até na sua pobreza

Nunca sabe mendigar!

Entre cavalos e toiros

Na lezíria assoalhada

A sua figura esbelta

Tem um encanto infinito:

Barrete verde; o colete

Encarnado sobre a neve

Da camisa de algodão;

Jaleca bem recortada,

Meia branca, os albardões,

As esporas, o calção

Azul cobalto justinho

E a cinta escarlate quente

Da cor do sangue ou do vinho.

Além, naquele valado,

As papoilas e o junquilho

Fazem trofeu, há mais luz!

Um harmónio no fadango

Vibra e salta no compasso

Magoadamente agitado!

Anda no ar o farrapo

Dolente de uma cantiga

Mordida pelo ciúme!

E o fandango vai dançado!

Ninguém se mexe. Só ele,

Bamboleado, rirail

Desempenado, perfeito,

- E as pernas? Como ele as dobra?

E aquela curva do peito?

Trás um cravo na orelha,

E dança, dança, - o harmónio

Vai-lhe graduando o alento,

A luz perturba, - mulheres

Ficaram mudas a olhá-lo!

A garotada assobia

Acentuando o mitovo

Musical, mas, a preceito;

E o Sol, apesar do dia

Nascer fosco e marralheiro,

Parece lume! - O fandango

Com a graça de um campino

É Portugal verdadeiro!

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