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Temos das coisas a lembrança das viagens
ignotas. E o sentido delas estilhaça
no primeiro espelho da memória.
Como aquelas noites muito brancas
povoadas de crimes inenarráveis.
Também as nossas mãos, vorazes,
tacteiam um percurso de sangue:
o de inquestionáveis desígnios do amor.
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De algumas perguntas tememos o som e o desenlace
delas, noite adiante, resguardo nenhum.
Sabemo-las assim lentas, um cristal
mais afiado, um abandono mais duro.
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Gosto da claridade penumbrosa
de adolescentes indecisos.
Gosto deles assim lentos
inaptos, vorazes, sedentos
do labor meticuloso e da
antiquíssima sabedoria de outras mãos.
Anjos devastados, senhores do caos
é para longe que partem.
O primeiro dos vinhos, bebido
da ânfora para a boca, alerta-os —
regressam agora às palavras e
aos gestos de antigamente.
Cumprem-se no jogo.
E ninguém suspeita de nada.
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